SÍNTESE
DO ENCONTRO DE ENGENHEIROS, ARQUITETOS, SOCIÓLOGOS E URBANISTAS COM
FREIXO
Por
uma política de Cidade
A
campanha de Freixo tem propiciado um amplo debate sobre a cidade e a
administração municipal. Em torno dos principais setores da
administração pública, como saúde, educação, transporte,
segurança pública e habitação, vêm ocorrendo plenárias
específicas e, como resultado, produções coletivas de cartas e
manifestos expressando a opinião de categorias profissionais e da
sociedade civil organizada.
A
fim de abrir espaço para uma discussão transversal dos diferentes
aspectos atinentes à administração municipal, e, em especial,
sobre planejamento urbano e gestão, foi realizado, no dia 11 de
setembro, um encontro entre Freixo e cerca de 100 profissionais das
áreas de engenharia, arquitetura, sociologia e urbanismo.
Foram
muitos os assuntos tratados no encontro, mas, de uma maneira geral,
podemos sintetizar as intervenções em três grandes blocos:
- Relação entre poderes e autonomia municipal;
- Desigualdade territorial e democratização da participação política;
- Democratização da infraestrutura disponível.
A
fim de melhor servir à construção de um programa de governo capaz
de articular as diferentes áreas e setores da administração
pública, apresentamos cada um dos blocos a partir da seguinte
organização: consideração crítica sobre o atual modelo de
administração e apresentação de medidas necessárias para
modificar o atual estado de coisas.
I.Relação
entre poderes e autonomia municipal
I.1
A Constituição brasileira permite aos municípios autonomia
administrativa e co-gestão de um conjunto de políticas com os
demais entes federativos para melhor realizar os objetivos
republicanos. O quadro de alianças políticas da atual administração
municipal, ao contrário do que o atual prefeito costuma afirmar, tem
impedido uma colaboração eficiente e responsável da gestão
integrada, do planejamento e da realização das ações nos
diferentes âmbitos de sua responsabilidade. Essa questão é
claramente percebida nas áreas do transporte público, do saneamento
e do sistema único de saúde, que têm sido marcadas por obras
desconectadas, e políticas fragmentadas que impedem que a população
possa saber quem são os responsáveis pelos erros, falhas e faltas
que afetam o bom funcionamento de serviços fundamentais às
políticas públicas de bem-estar social.
Para
transformar esse quadro, será necessário:
-
que todas as políticas públicas sejam negociadas com base em metas,
atribuições e responsabilidades precisas para cada ente federativo,
de modo a que a população possa acompanhar, entender e participar
da sua realização;
-
que se substitua a atual política de comunicação e publicidade,
que vem servindo ao marketing eleitoreiro de programas, por
uma nova política de informação e publicidade capaz de fortalecer
o sentido integrado das ações públicas e de suas políticas;
-
integração das políticas nos territórios, na escala das regiões
administrativas e das Áreas de Planejamento;
-
realização de ações integradas de planejamento e coordenação de
políticas que levem em conta a função e vocação da cidade do Rio
de Janeiro não apenas de capital do estado mas também de centro da
região metropolitana.
II
– Desigualdade territorial e democratização da participação
política
II.1
– O território do Rio de Janeiro é um dos mais desiguais do país.
Por seu turno, a atual administração tem aprofundado essa
desigualdade investindo mais em áreas já valorizadas, e apostando
em um projeto caracterizado por duas centralidades, a do centro da
cidade, agora reforçado com o Porto Maravilha, e a da Barra da
Tijuca, epicentro do projeto olímpico.
Para
reverter esse quadro será necessário que:
-
o poder público municipal realize investimentos que favoreçam uma
maior igualdade urbana, muito especialmente na área de transporte
público, de modo a favorecer a mobilidade e a conectividade dos
territórios;
-
que adote um projeto de cidade policêntrica, favorecendo a
desconcentração dos recursos e dos polos de atração para os
negócios e serviços;
II.2
– Mas a desigualdade do Rio de Janeiro é também política. A
cidade está loteada em grupos políticos que dominam sobretudo os
territórios populares. A atual administração, com sua política de
coalizão partidária baseada em troca de favores e privilégios por
votos, redobra essa tendência, inclusive consolidando a posição de
controle político exercida por milícias e mandões locais em
algumas áreas da cidade;
Reverter
essa situação demanda:
-a
criação e ampliação dos mecanismos de participação da sociedade
nos processos decisórios, através da ativação de conselhos
populares e de uma interlocução permanente com as associações de
moradores;
-
eliminação dos pontos de contato entre os mandões locais e a
administração municipal;
Dessa
nova postura do poder público municipal também se deve esperar um
fortalecimento do papel democrático e republicano da Câmara de
Vereadores.
II.3
– A gestão pública do Rio de Janeiro é uma das menos
transparentes; e a atual administração municipal tornou ainda mais
dramática essa situação quando estabeleceu formas de gestão
tecnocráticas, como se vê na educação; quando repassa para as OSs
a administração de serviços de saúde; quando cria uma situação
de cartelização nos contratos envolvendo as obras públicas,
privilegiando um grupo restrito de construtoras; e, ainda, quando não
oferece dados atualizados sobre a cidade e a gestão pública .
Para
reverter essa situação será necessário atuar nas seguintes
frentes:
-
criação de uma cultura democrática de gestão pública. No caso da
educação, por exemplo, com a construção coletiva e compartilhada
de políticas públicas de melhoria do desempenho escolar; no da
saúde, tanto com o fortalecimento do servidor público - ao invés
do modelo OS – quanto com o estabelecimento de procedimentos de
controle social;
–
implantação de mecanismos
capazes de assegurar a ampla transparência da ação do poder
público, incluindo todas as etapas do processo decisório. Daí se
segue uma política capaz de romper com o modelo de cartelização
que tem caracterizado a atual gestão municipal, através da
democratização do acesso aos editais, licitações, concorrências,
usando o poder financiador e das compras públicas para fortalecer o
tecido produtivo e a geração de trabalho e renda, por meio da
mobilização das micro, pequenas e médias empresas, das redes
empresariais e de consórcio, bem como das cooperativas com
enraizamento e compromisso com a geração de trabalho e renda a
longo prazo no município;
–
produção e ampla difusão de
dados e de informações sobre a cidade e sobre a gestão pública,
de modo a permitir a atuação qualificada da sociedade civil no
debate sobre a cidade;
III
– Democratização da Infraestrutura disponível
III.1
– A Prefeitura do Rio de Janeiro tem sido uma das que mais
desperdiça a infraestrutura já instalada na cidade. Disso é
exemplo a ausência de investimentos (urbanísticos e em política de
integração entre modalidades de transporte) visando valorizar a
rede ferroviária; o abandono de redes de saneamento já instaladas,
como se verifica na área formal da AP-5, na qual muitos dos
equipamentos construídos encontram-se simplesmente abandonados,
gerando uma situação de colapso ambiental; e na questão da
habitação, do que é exemplo forte o chamado Porto Maravilha, que
não prevê a construção de habitações populares, apesar da óbvia
vocação da região para esse fim, em virtude de sua centralidade, e
de já contar com infraestrutura urbana e oferta de equipamentos
públicos.
Disso
tem resultado uma série de consequências perversas, tais como:
.
a ampliação sempre crescente de sua mancha urbana, com a criação
de novas áreas sempre desprovidas de infraestrutura urbana;
.
remoção de áreas que poderiam ser urbanizadas;
.
construção de habitações populares em áreas pouco estruturadas;
Reverter
esse quadro implica em:
-
levar em conta e aprimorar os diagnósticos já realizados sobre a
infraestrutura instalada;
-
realizar investimentos estratégicos em áreas já estruturadas,
sobretudo nos bairros dos subúrbios da cidade;
-
aprofundar a experiência de urbanização das favelas;
-
reabrir a discussão sobre a revitalização da região portuária,
valorizando sua condição de “janela de oportunidade” para a
construção de habitação popular em larga escala.
Além
de definir esses eixos de fortalecimento do programa de governo
Marcelo Freixo, o encontro também serviu para aprofundar seu
compromisso com a valorização dos mecanismos de participação
social, política e técnica na administração pública, por meio do
resgate da função dos conselheiros e do reconhecimento dos
resultados já consolidados dos encontros dos conselhos de políticas
públicas municipais, estaduais e nacionais como referências
fundamentais para o governo da cidade; do amplo diálogo com a vida
associativa e com os movimentos sociais; e da valorização do enorme
capital intelectual de ciência, tecnologia e inovação instalado
nas universidades sediadas no Rio de Janeiro.
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